terça-feira, 21 de abril de 2009

Dia do Índio – 19 de Abril

É índio ou não é índio?

Daniel Monteiro Costa nasceu em Belém do Pará. É professor e, desde muito jovem, sempre procurou trabalhar em favor das crianças carentes.
Membro do povo Munduruku, atualmente mora no Estado de São Paulo. Para divulgar sua história, Daniel se dedica a escrever e a contar histórias dos povos indígenas, bem como alguns acontecimentos ocorridos com ele, como o que você vai ler agora.
Certa vez tomei o Metrô rumo a Praça da Sé. Eram seus primeiros dias em São Paulo, e eu gostava de andar de Metrô e ônibus. Tinha um gosto especial em mostrar-me para sentir a reação das pessoas quando me viam passar. Queria poder certeza de que as pessoas me identificavam como índio a fim de formar minha auto-imagem.
Nessa ocasião a que me refiro, ouvi o seguinte diálogo entre duas senhoras que me olharam de cima a baixo quando entrei no Metrô.
- Você viu aquele moço? Parece que é índio – disse a senhora A.
- É, parece. Mas eu não tenho tanta certeza assim. Não viu que ele usa calça jeans? Não é possível que ele seja índio usando roupa de branco. Acho que ele não é índio de verdade – retrucou à senhora B.
- É, pode ser. Mas você viu o cabelo dele? É lisinho, lisinho. Só índio tem cabelo assim, desse jeito. Acho que ele é índio, sim defendeu a senhora A.
- Sei não. Você viu que ele usa relógio? Índio vê à hora olhando pro tempo. O relógio do índio é o Sol, a Lua, as estrelas... Não é possível que ele seja índio – argumentou à senhora B.
- Mas ele tem olho puxado – disse a senhora A
- E também usa sapatos e camisa – ironizou a senhora B.
- Mas tem as maças do rosto muito salientes. Só os índios têm o rosto desse jeito. Não, ele não nega. Só pode ser um índio, e parece dos puros.
- Não acredito. Não existem mais índios puros – afirmou cheia de sabedoria a senhora B – afinal, como um dia índio poderia estar andando de metrô? Índio de verdade mora na floresta, carrega arco e flechas, cação e pesca e planta mandioca. Acho que ele não é índio coisa nenhuma...
(...)
- E o que você acha de falarmos com ele?
E se ele não gostar?
- Paciência... Ao menos nós teremos informações mais precisas, você não acha?
- É, eu acho, mas confesso que não tenho muita coragem de iniciar um diálogo com ele. Você pergunta? – disse a senhora B, que a esta altura já se mostrava um tanto constrangida.
- Eu pergunto
Eu estava ouvindo a conversa de costas para as duas e de vez em quando ria com vontade. De repente, senti um leve toque de dedos em meu ombro. Virei-me. Infelizmente elas demoraram a chamar-me. Meu ponto de desenbarque já estava chegando.
Olhei para elas, sorri e disse:
- Sim!

Daniel Mundukuru. “É índio ou não é índio?” Em histórias de índio.
São Paulo, Companhia das Letrinhas, 1996. Adaptado para fins pedagógicos.Apresentada por Gisele Braga, Laila dos Anjos e Thiago Figueiredo (10 anos) – T. 1502.

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